sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Caetés - A Cidade Encantada II







Moro em uma cidade
Que revive o passado,
Que faz de conta ser um reino
De um monarca iluminado
Seu nome não poderia
Ser mais que isso apropriado
Pois se chama Caetés*
Esse pequeno reinado

É copia de seu país
Miniatura da nação
Canta o hino, hasteia bandeira
Pratica corrupção
Rouba do pobre e dá a o rico
Veja que contradição
O inverso de um Robin Hood
Radicado no sertão

No tabuleiro de xadrez
O rei sempre está presente
Um xeque-mate é o final
Da partida, assim se entende
Mas se fosse um tabuleiro
Caetés era excelente
Xeque-mate era impossível
Com o rei estando ausente

Carrega o nome de um poeta
Dos melhores do sertão
Mas se for pra igualar
É triste a comparação
Zé da Luz** era um sábio
um simples homem do sertão
Que só roubava do povo
Suspiros de emoção

É irmão, filho e sobrinho
Vivendo na mordomia
Enquanto o povo sofre
Passa aperreio e agonia
É que em Caetés não tem
Para os doentes valia
Pois medico e hospital
Só na cidade vizinha

E nesse reino é assim
O monarca é encantado
Vem de quatro e quatro anos
Tapear o eleitorado
Dizer que vai melhorar
E tapear muitos coitados
E o resto dos seus votos
Garanto que são comprados

Quem abre a boca pra falar
Escancarar as verdades
"É bicudo, ta mentindo,
São os lisos da cidade"
Assim a corte se defende:
"É mentira, é falsidade!"
Quem tem o poder nas mãos
Tem para si a vantagem

Muito poucos são os projetos
E assim mesmo muito caros
Mas foi parente do monarca
Tem casa boa e bom carro
Comprados com o dinheiro
Que do seu povo foi roubado
Até a merenda das escolas
Vai pra o endereço errado

E assim é a cidade
Que parece monarquia
Alguns sustentam a esperança
De viver melhores dias.
Nesse reino de mentiras
Falcatruas e covardias
Caetés é um exemplo
De corrupção e ousadia.

Ciço .Poeta, 16/09/2011

Poema especialmente feito a pedido de Hadriel Ferreira. Espero que goste.

Notas:

*: Os caetés (Kaeté) eram um povo indígena tupi-guarani brasileiro.
Os índios desta tribo, que praticava o canibalismo ritual, comeram o primeiro bispo do Brasil, D. Pero Fernandes Sardinha, cujo navio em que regressava a Portugal naufragou nas costas da foz do rio Coruripe, junto a outros cem náufragos.



**:Severino de Andrade Silva (Itabaiana, 1904 — Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 1965), mais conhecido como Zé da Luz, foi um alfaiate de profissão e poeta popular brasileiro.

Publicava suas obras em forma de literatura de cordel.
Principais obras:

Brasi Caboco
A Cacimba
As Flô de Puxinanã
A Terra Caiu no Chão
Ai! Se Sêsse!..

3 comentários:

  1. Esse meu irmão é um poeta topado mesmo! Grito no ouvido da corrupção, Caetés, Caetés.. :/

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  2. Muito bom, Ciço...
    Vc é um cara talentoso. Obrigado pela citação.
    Boa noite!

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  3. Parabéns!
    Conseguiu dizer em prosas e versos a labuta dessa sofrida Caetés.

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