quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Saúde



(Cicero Chaves L. Jr.)

Hoje eu bebo do veneno
Que bebem os solitários
Bebo do veneno amargo
Destilado do desprezo
Trago a desesperança
Desconfiança e miséria
Goles de antimatéria
É o que bebo e mereço

Bebo a dor de uma saudade
De quem desmanchou sorrisos
De quem nunca foi motivo
De quem nunca foi verdade
Bebo a pura maldade
Vinho de malevolência
Fermentado em violência
Bebo a descontinuidade

Bebo sonhos, pesadelos
Bebo tudo, tudo bebo
Num copo de insanidade
Inverdades, bebo o medo
Bebo promessas quebradas
Falhas, fracassos, erros
Pedras de insensibilidade
Dose dupla de maldade
Outra porção de desespero

Bebo um mundo, bebo outro
A imunda humanidade
Garrafas de má vontade
Adegas de dinheiro e ouro
Bebo o fim, bebo o começo
Mas eu não mereço o meio
Bebo o triste, bebo feio
Me embriago em desalento
Fecho a conta, fecho o tempo
Fecho a cara, quebro o fecho.


Ciço .Poeta, 21-11-2012

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Cordel III


(Orfeu)

13

Eu sou o caboco errante
Retirante do sertão
Minha voz é minha arma
Meu escudo e meu brasão
Cada palavra é uma bala
Que não erra a direção
É um tiro e uma queda
É o pipoco do trovão

14

Mais ligeiro que menino
Mais valente que vaqueiro
Sou mais quente que o sol
Sou brilhante o tempo inteiro
De noite sou curviana
Invadindo seu terreiro
De dia sou ridimunho
E trovoada em janeiro

15

Mais brabo que lampião
Mais famoso que Gonzaga
Mais temido que o cão
Mais querido do que água
E num se aperrei não
Pois no canto que eu morava
Quem vinha cantar mais eu
Chegava e perdia a fala

16

Veneno de cascavel
As garras do carcará
Uma seca desmantelada
Uma carreira de um guará
Pisa de bimba de boi
Dor de dente de lascar
Juntando tudo isso é pouco
Pra o que eu vou lhe falar

17

Não conheço cantador
Que queira cantar mais eu
Eu tenho pra mim que sou
Descendente de Orfeu
Tudo que é vivo se cala
Quando eu começo a rimar
Até o próprio tempo para
E só volta quando eu mandar

18

Eu sou o caboco errante
Escute isso e veja bem
Repare o que eu vou dizer
O que eu tenho ninguém tem
Um dom mais do que sagrado
Herdado divinamente
Muitos dizem que são bons
Mas nunca na minha frente


Ciço .Poeta, 09-11-2012

domingo, 11 de novembro de 2012

Musica: A Margem do Caos




Andei sozinho 
Beirando o horizonte
Pisando em espinhos
Eu ja fui muito longe
Pra poder voltar daqui
Eu tenho que sofrer
Mas do que eu ja sofri
É melhor esquecer
Ô mãe, hoje eu não to pra ninguém
Não estou mal
Mas nem perto de estar bem
Ô mãe, hoje eu não to pra ninguém
Nem longe de estar mal
Nem perto de estar bem

Ciço .Poeta, 11-11-12